sábado, 28 de agosto de 2010

Cimena Nacional

Jovens das comunidades comandam "5x Favela" do século 21

Filme que estreia nesta sexta 27 foi aplaudido em Cannes e levou sete prêmios em Paulínia
Por: Revista do Brasil


Jovens das comunidades comandam "5x Favela" do século 21
Atores e diretores de "5 x favela" no Festival de Cannes (Foto: Divulgação)
São Paulo - No verão de 1961, cinco jovens cineastas de classe média subiram morros cariocas e fizeram o filme 5x Favela. Lá estavam Cacá Diegues, Leon Hirszman, Joaquim Pedro de Andrade, Marcos Farias e Miguel Borges, do Centro Popular de Cultura da União Nacional dos Estudantes, o CPC da UNE.
Esse precursor do Cinema Novo inspirou a refilmagem produzida por Cacá Diegues e Renata Magalhães. Só que desta vez a direção dos cinco episódios de 5x Favela – Agora por Nós Mesmos ficou a cargo de jovens cineastas moradores de comunidades pobres do Rio. “A principal diferença entre os dois filmes é que o primeiro foi feito por cinco jovens universitários generosos e bacanas, mas de classe média, com olhar de fora. Esse, não. Foi concebido, escrito, criado e realizado por jovens moradores de favelas”, compara Cacá.
O filme foi selecionado para a mostra não competitiva do Festival de Cannes, na França, onde foi ovacionado. Levou também sete prêmios no Festival de Cinema de Paulínia, em São Paulo: melhor filme de ficção (oficial e júri popular), ator coadjuvante, atriz coadjuvante, roteiro, montagem e trilha sonora.
Em 2007, a dupla de produtores organizou oficinas de roteiro para escolher as histórias que seriam filmadas. Elas foram ministradas em cinco comunidades que já desenvolviam programas de audiovisual em favelas: Nós do Morro, no Vidigal; AfroReggae, na Parada de Lucas; Cinemaneiro, que atende moradores da Linha Amarela; Central Única das Favelas (Cufa), na Cidade de Deus; e o Observatório de Favelas, no Complexo da Maré.

Cenas da vida

“Quando eu recebi o argumento, senti o desafio. Ninguém queria filmar a violência porque isso é clichê, mas eu, como gosto de drama, adorei. O fato de eu ter um irmão que foi traficante me permitiu colocar elementos da minha vida pessoal na ficção”, comemora Luciano Vidigal, morador na comunidade de mesmo nome e diretor do episódio Concerto para Violino.
A atriz Luciana Bezerra, de 36 anos, trabalha com cinema há 17 anos e mora no Vidigal. O episódio que dirigiu, Acende a Luz, retrata dificuldades de vizinhos que estão sem luz às vésperas do Natal. “Ela é alegre, tem muito a ver com a minha família, em como a gente encara a vida, mesmo com as dificuldades”. O episódio rendeu a Dila Guerra e Marcio Vito, os prêmios de ator e atriz coadjuvantes.
Em Arroz com Feijão – ambientado na Cidade de Deus – Rodrigo Felha, 30 anos, e Cacau Amaral, 38, dirigiram a história do menino Wesley, que ouve o pai confessando que estava cansado de comer todo dia o mesmo prato e tenta, com a ajuda do hilário amigo Orelha, deixar o aniversário do pai mais saboroso.
Manaíra Carneiro, de 23 anos, dirige com Wagner Novais, o Wavá, de 25, Fonte de Renda, em que Maicon, um jovem padeiro, passa a levar drogas aos colegas para ter dinheiro para poder estudar Direito. “Tem quem critique porque tem muita gente feliz, rindo. O que precisam entender é que as pessoas da favela riem e são felizes como todo mundo”, critica Wavá.
Deixa Voar mostra as barreiras imaginárias do Complexo da Maré, onde mora o diretor Cadu Barcellos. Conta a história de Flávio, que, para buscar a pipa talhada do amigo, é obrigado a ir para ao território dominado por facção rival. “É um episódio sobre o desconhecido, o refugiado”, resume o diretor.
Para Cadu, 5x Favela – Agora por Nós Mesmos é mais que um filme: “É um marco na história da cinematografia brasileira. Um cara da favela falando sobre a sua realidade no cinema é revolucionário. Além disso, tem a questão do ponto de encontro, porque jovens de várias comunidades fizeram o ‘tudo junto e misturado’ realmente acontecer e dar certo”, comemora.

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