quarta-feira, 20 de abril de 2011

Brasil já tem droga pior do que o crack

Com maior poder avassalador, uma nova droga vem provocando uma epidemia de vício nos estados da região Norte do país. Conhecida como ‘oxi’, abreviação de ‘oxidado’, a substância é uma mistura da pasta-base da cocaína com combustíveis, na maioria das vezes querosene e gasolina, e solução de bateria.

Consumida em forma de pedra, o derivado da cocaína leva à morte e tem maior poder de abstinência e dependência que o crack. Na Bahia, os registros ainda são desconhecidos segundo a Polícia Federal, porém a população baiana teme uma extensão do consumopara o Nordeste. 

“Já temos violências demais por causa do crack, cocaína, maconha e outros tipos de vícios. Se chegar aqui em Salvador este tipo de droga, nem sem o que será de nós. Realmente, os traficantes já não têm mais o que inventar para acabar com a nossa juventude”, disse a comerciante Valéria de Oliveira, 36 anos. 

Fumada através de um cachimbo, a droga é oriunda da Bolívia e do Peru, maiores países fornecedores do tráfico, e entrou no Brasil pelo estado do Acre, onde os registros de usuários estão cada vez maiores nos municípios de Brasileia e Epitaciolândia.

Com valor entre R$ 2 e R$ 5, os principais consumidores são adolescentes e jovens e, assim como o crack, a droga tem poder de dependência, desde o primeiro consumo. Com rápido efeito, o oxi chega ao cérebro em poucos segundos, provocando imediata vontade de novo consumo.

Apesar do temor dos baianos, o superintendente do Departamento da Polícia Federal na Bahia, José Maria Fonseca, tranquiliza a população afirmando que não há registros de apreensões desta substância na Bahia ou em qualquer estado do Nordeste. “Não vejo isso como um novo tipo de droga e sim como uma nova forma de consumo. Aqui não tem registros e é provável a inexistência no Nordeste. Fazemos várias apreensões de pasta-base de cocaína, que impede o tratamento para a transformação no oxi”, afirmou o superintendente.

De acordo com a titular da Delegacia do Adolescente Infrator (DAI), Claudenice Mayo, o baixo custo e a facilidade de encontro tornam crianças e adolescentes os principais consumidores. 

“Todo entorpecente que tem baixo valor tem como principal alvo os menores de idade, pois eles não têm renda financeira”, explicou a delegada, ressaltando que também não tem conhecimento de usuário aqui em Salvador. “Já ouvi falar muito nesta droga, mas aqui não tem registros. Pode ser que um dia apareça, mas até o momento ainda não”, afirmou.

Danos rápidos e agressivos

Em poucas semanas de uso, o dependente químico do oxi apresenta dificuldades para respirar, emagrecimento e tonalidade amarela na pele. As dores de cabeça, náuseas, vômitos e diarreias tornam-se problemas diários. Devido à presença de combustíveis, a substância atinge diretamente órgãos como fígado e rins, causando problemas no aparelho digestivo e dificuldades renais. A aparência física torna-se velha e degradante, como a de qualquer usuário de drogas.

Segundo o Centro de Estudos e Terapia ao Uso de Drogas, Cetad, em palestra realizada em Brasília, o psiquiatra Antônio Nery esclareceu sobre a avassaladora substância e deixou o órgão em alerta sobre o assunto. “Temos conhecimento sobre o poder do oxi, mas como ela ainda é desconhecida, nosso primeiro passo seria encaminhar o usuário para tratamento em clínica, assim como fazemos sempre”, afirmou uma funcionária do local, identificada apenas como Maud.

O toxicologista Daniel Rebouças explica que os efeitos podem ser muito mais devastadores do que os da cocaína e do craque. “Quando falamos em droga, nunca um mais um é igual a dois, portanto a nossa expectativa, infelizmente, é de que os efeitos sejam multiplicados”. Porém, conforme ele, por ser uma substância nova, ainda não é possível observar com detalhes os danos.

“A certeza do que vai causar no organismo só teremos daqui a algum tempo, mas sabemos que os danos serão somados aos da cocaína e agravados. Por ser misturada a derivados de petróleo, sabemos, por exemplo, que pode causar problemas no sistema nervoso central, além de ações maléficas no sangue, de paralisia e problemas no fígado e rim”, explicou Rebouças.

De acordo com ele, o efeito devastador e crescente de cada substância ilícita é uma questão mundial. “A cada dia as pessoas, em todos os setores, visam o lucro rápido, e no comércio de ilícitos isso não é diferente, afinal, as atividades ilícitas lucram ainda mais rápido do que as atividades lícitas”, concluiu ele.

Além da cidade de Rio Branco, capital do Acre, há informações veiculadas por jornais da região Sul do país, a respeito da presença do oxi em Goiás, Distrito Federal e na “cracolândia” de São Paulo.
 

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