domingo, 1 de maio de 2011

Perigo no trabalho

                 Há três meses o operário Josevaldo Figueredo Lobo, de 32 anos, saiu de casa para trabalhar e nunca mais retornou para sua família.  Ele morreu ao despencar de uma altura de 40 metros quando colocava pastilhas de cerâmica na fachada de um prédio, no bairro da Pituba, deixou esposa e dois filhos. De acordo com a polícia, o trabalhador não utilizava cordas de segurança. Este foi um dos muitos casos lembrados ontem, Dia Mundial de Segurança e Saúde no Trabalho.
Acidentes de trabalho e doenças ocupacionais são cada dia mais frequentes e causam todos os anos cerca de 2,2 milhões de óbitos no mundo – o que supera o número de mortos nas guerras segundo a Organização Internacional do Trabalho (OIT). A cada ano são registrados 270 milhões de acidentes não fatais e 160 milhões de casos novos de doenças profissionais.
escolha do dia 28 de abril partiu do movimento sindical canadense, pois neste mesmo dia, em 1969, ocorreu uma explosão em uma mina na cidade de Farminghton, nos Estados Unidos, onde morreram 78 trabalhadores. Em 2004 tiveram início as primeiras manifestações brasileiras em relação à data que só foi reconhecida oficialmente em 2005.
Há menos de dois meses, no dia 1 de março, o trabalhador Antônio Francisco de Jesus, não resistiu aos ferimentos causados durante o acidente na obra do metrô de Salvador. O acidente foi causado pela explosão de um tambor que ainda feriu gravemente outros três trabalhadores.
A explosão ocorreu quando o trabalhador Antônio Barbosa Cerqueira, utilizava um maçarico para fazer a abertura de uma tampa superior de um tambor (que continha resíduos de produtos químicos) que acabou explodindo e queimando 95% do corpo do operário que faleceu dia 25 de fevereiro. O único sobrevivente, Givaldo Pereira dos Reis Lima sofreu queimaduras graves em 40% do corpo.
Em setembro do ano passado dois operários morreram quando iniciavam a desmontagem de uma grua no conjunto Le Parc, na Paralela e acabaram arremessados ao chão – de uma altura equivalente a um edifício de sete andares – no momento em que o equipamento despencou. Leandro Marques Cardoso, 27 anos e Roberto Robson dos Santos, 30, morreram na hora e um terceiro trabalhador, Adilson do Nascimento, sofreu ferimentos graves.
Apesar de a imprensa noticiar frequentemente casos como estes e sindicatos e órgãos competentes registrarem as ocorrências, os dados sobre acidentes de trabalho estão sempre defasados e subestimados sem conseguir dimensionar a gravidade do problema.
O último levantamento do Centro Estadual de Referência em Saúde do Trabalhador (Cesat) ligado à Secretaria de Saúde do Estado (Sesab) se refere ao intervalo entre 2000 e 2008, quando houve um constante aumento do número de casos na Bahia.
No último ano foram contabilizados 16.293 acidentes típicos, quando em 2007 este número foi de 15.208. Os números referentes ao Brasil seguem a mesma tendência de aumento da Bahia, sendo que em 2007 foram registrados 486.485 casos de acidentes de trabalho típico no país e em 2008 foram 540.998.
As estatísticas mais recentes do INSS – que são os casos em que o trabalhador solicitou auxílio doença – se referem ao ano de 2009, quando foram registrados cerca de 723,5 mil acidentes do trabalho. Segundo o INSS, comparado com 2008, o número teve queda de 4,3%. O total de acidentes registrados com CAT (Comunicação de Acidente de Trabalho) diminuiu em 4,1% de 2008 para 2009.  Do total de acidentes registrados com CAT, os acidentes típicos representaram 79,7%; os de trajeto 16,9% e as doenças do trabalho 3,3%.

Acidentes na construção civil são mais recorrentes

Na distribuição por setor de atividade econômica, o setor ‘Agropecuária’ participou com 4,4%, o setor ‘Indústria’ com 48,0% e ‘Serviços’ com 47,6%, excluídos os dados de atividade “ignorada”.
Nos acidentes típicos, os subsetores com maior participação nos acidentes foram ‘Comércio e reparação de veículos automotores’, com 12,3% e ‘Produtos alimentícios e bebidas’, com 11,3% do total. Nos acidentes de trajeto, as maiores participações foram ‘Comércio e reparação de veículos automotores’ e ‘Serviços prestados principalmente a empresa’ com, respectivamente, 19,2% e 14,3%, do total.
Nas doenças de trabalho, foram os subsetores ‘Atividades financeiras’, com participação de 11,6% e ‘ Comércio e reparação de veículos automotores’, com 11,0%.
O setor ‘Serviços’ inclui os acidentes ocorridos dentro da  construção civil, um dos mais recorrentes na capital baiana, que está em fase de expansão imobiliária com centenas de empreendimentos pela cidade.

“Infelizmente, nossos números não são capazes de expressar a incidência de acidentes de trabalho na área da construção civil, por mais que a gente tente, as empresas escondem os casos”, conta Arilson Ferreira Santos, diretor de saúde e segurança do trabalho do Sintracom, um dos sindicatos que representa a categoria, que tem registrado 38 acidentes e três óbitos, em 2010 e em 2011 três acidentes e um óbito.
A entidade que representa os trabalhadores da construção pesada, o Sintepav-Ba aponta que em 2008, 2.757 trabalhadores da indústria da construção foram mortos por acidentes de trabalho no Brasil e 12.071 trabalhadores ficaram lesionados e incapacitados por terem sofrido acidentes de trabalho. Segundo dados do Ministério do Trabalho e Emprego – MTE, esses números não são oficiais, ou seja, não representam a realidade, devido à existência de empregos informais e de empresas não registradas que atuam no país.
De acordo com o levantamento realizado pelo Sintepav-Ba, entre 2001 e 2006, ocorreram nas obras do metrô, realizada pelo Consórcio Construtor Metrosal, 164 acidentes de trabalho, sendo que cinco desses acidentes foram fatais e dois com amputação de membros.
“Esse levantamento é preocupante, pois demonstra a significativa falta de ações de prevenção da empresa”, afirma Iranildo Domingos de Souza, diretor secretário de saúde ocupacional, higiene e segurança do trabalho do Sintepav-Bahia.
Ainda segundo Domingos, a intensificação das tarefas, a inexistência de treinamentos, a falta de equipamentos de segurança adequados para cada função, a pressão dos prazos e a exposição aos agentes insalubres e periculosos dentro dos canteiros de obras, levam os trabalhadores a extrema precarização das condições de vida no trabalho. O sindicato chegou a ingressar com diversas ações judiciais solicitando o pagamento de indenização em favor dos trabalhadores acidentados.
 

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